Classificação
Fazer listas (tais como a tabela dos nós) é uma actividade humana básica. Contudo, atendendo à complexidade do mundo, não se pode fazer uma lista de tudo, pelo menos se se quer levar uma vida sensata. Talvez se lembre do Homem da Memória descrito por Luria em [Luria, A.R., (1968), The mind of a mnemonist, trans. by Lynn Solotaroff, Basic Books, New York.] que era incapaz de esquecer fosse o que fosse e, portanto, não era capaz de levar uma vida normal. Um dos factores de diagnóstico para crianças autistas é que se lembram de padrões sem sentido tão facilmente como de outros padrões [Wing, Lorna, (1976), Early childhood autism; clinical, educational, and social aspects, Pergamon Press, Oxford]. Assim, ao fazermos listas, impomos ou procuramos ordem: classificamos. Por exemplo, um zoólogo não faz uma lista de todos os animais numa reserva de caça, faz listas de antílopes, de elefantes, de leões, etc. Para fazer isso, ele precisa de critérios para dizer que dois animais são o mesmo. Em Matemática, a noção de igualdade ou, em termos matemáticos mais precisos, equivalência, é básica. A teoria dos nós apresenta pontos matemáticos interessantes nesta área. Primeiro, «Quando é que dois nós são o mesmo?» é uma pergunta não trivial. Segundo, fazer uma lista inicial dos primeiros elementos de uma família infinita envolve alguma classificação nos elementos «mais simples». Terceiro, mesmo a apresentação de uma tal lista simples sugerirá provavelmente a necessidade de mais ordem e classificação. Tratamos da primeira questão mostrando nas nossas tabelas como os diagramas de nós podem ser transformados sem mudar o nó. Esta é uma área em que desenhos animados por computador podiam ter melhorado muito a apresentação. No entanto, estávamos limitados pelo preço de produzir os desenhos e o preço de os apresentar numa exposição. Este último problema era mais fácil de superar, uma vez que podia ser feito um vídeo que podia facilmente ser mostrado na maior parte das escolas. Um dos objectivos que nos fixámos foi explicar o significado de uma lista de nós. Embora uma tal lista seja aparentemente simples, a explicação envolve as seguintes ideias:
Estes temas dão ligação entre as várias tabelas. Discutimos quando é que dois nós são o mesmo. Isto também está ligado à noção de movimentos de Reidemeister discutida em «Quando é que 2 nós não são o mesmo». Decidir quando é que dois nós são o mesmo precisa da noção de Invariante.
Tabela de Nós
Aqui está
uma lista de nós (em duas páginas). De facto, só tem uma lista de nós
primos até aos que têm 9 cruzamentos
e não distingue os nós das suas imagens
no espelho. No entanto, dá uma ideia da complexidade do problema!
Decomposição em Elementos
Simples
Decomposição
em elementos simples é um processo básico em Matemática, ou de facto sempre que
se trata de assuntos complicados. Em teoria dos nós este processo aparece de
uma variedade de maneiras.
juntamente com deformações
sem alterar os cruzamentos. Ilustrámos isto ao modificar o nó de
cadeira e também ao mostrar porque é que a colorabilidade
de um nó é um invariante.
Há uma infinidade de sequências de movimentos que se podem efectuar sobre
um diagrama. É por isso que pode ser tão difícil decidir se dois diagramas
representam ou não o mesmo nó. Se representarem o mesmo nó, pode ser difícil
decidir qual é o menor número de movimentos que pode ser usado para transformar
um diagrama noutro.
QUANDO É QUE DOIS NÓS SÃO O
MESMO
Um lacete de fio tem essencialmente o mesmo tipo de «enodamento»
independentemente da maneira como é puxado, torcido ou amarrotado. Isto quer
dizer que todos os diagramas em cima de facto mostram o mesmo nó. A figura
final é apenas o lacete sem nó disfarçado! |
|
|
|
|
Também se pode retirar,
acrescentar ou mudar alguns dos cruzamentos da maneira indicada em cima. Isto
ilustra uma característica muito importante da Matemática: reduzimos um
processo complicado a uma sucessão de passos simples.
SIMPLIFICANDO O NÓ DE
CADEIRA
A versão mais simples
possível de um nó pode parecer muito diferente do seu aspecto usual.
Consideremos o nó de cadeira, um nó usado frequentemente por marinheiros para
fazer um lacete numa ponta de corda.
|
Pode ser muito difícil distinguir dois diagramas de nós complicados.
Com apenas quatro movimentos pode-se tornar um nó irreconhecível. Em 1899 uma
tabela de nós foi feita por C. M. Little. Os dois nós representados em baixo
figuravam como diferentes. Só em 1974 é que K. M. Perko descobriu que os dois
nós eram o mesmo. |
Não interessa qual é a
figura do nó que tentamos colorir. Ou todas as figuras de um nó são
3-coloríveis ou nenhuma é 3-colorível. Para descobrir porque é que isto é
assim, tentemos ver o que se passa quando mudamos o diagrama de um nó através
dos nossos movimentos simples.
Neste caso continuamos com uma cor |
À direita temos três cores |
Mostramos em baixo dois dos
numerosos casos que envolvem um terceiro tipo de movimento. Note que somos
sempre autorizados a mudar algumas cores num movimento, mas temos de respeitar
a regra básica: em cada cruzamento tem de haver ou uma cor ou três cores. Isto
pode ser feito para cada movimento. Portanto vemos que uma figura que não é
3-colorível não pode ser um trevo disfarçado.
|
|
E quanto a outras maneiras
de colorir? É interessante experimentar com mais de 3 cores, do mesmo modo, mas
descobriu-se que isto não dá directamente um invariante do nó. Em vez disso tem
de se usar um tipo de etiquetagem mais subtil que fornece novos invariantes.
Tente experimentar com diversas maneiras de colorir os nós seguintes e outros
diagramas deles.
|
|
|
NÓS PRIMOS
A analogia entre nós e
números vai mais longe.
Um número primo é um que não é produto de números mais pequenos. Os
primeiros números primos são
2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 29, 31, 37, . . . .
Qualquer número pode ser
escrito como produto de um conjunto de números primos. Aqui está um exemplo:
60 = 2 x 2 x 3 x 5 = 2 x 5 x 3 x 2.
O número 60 determina
a lista 2, 2, 3, 5 de primos, mas não a ordem pela qual são usados.
O mesmo é verdade para os
nós.
Um nó primo é um que
não é soma de nós mais simples.
Exemplos de nós primos incluem:
. . . . .
Qualquer nó com número
de pontes igual a 2 é um nó primo.
O trevo e o pentafólio são
membros da família que contém o nó:
Estes são os nós de toro.
Todos os nós de toro são nós primos. Por isso, há muitos nós primos.
Qualquer nó pode ser escrito como soma de uma
lista de nós primos. Estes nós primos são determinados pelo nó original, mas na
prática pode ser muito difícil determinar quais são estes nós primos.
Ao desenhar figuras de nós,
representamos as sobreposições por cruzamentos. Quantos mais cruzamentos há,
mais complicada é a figura.
Aqui está
uma figura de um trevo com nove cruzamentos. Torcendo |
|
|
O lacete sem nó tem número de cruzamentos 0. Qualquer figura com apenas 1 ou 2 cruzamentos tem de ser o lacete sem nó. Consegue ver porquê? |
|
O trevo tem número de cruzamentos 3. A figura oito tem número de
cruzamentos 4. Classificar nós pelo número de cruzamentos é um método para
tentar compreender as complicações infinitas de nós e emaranhamentos. |
|
IMAGENS NO ESPELHO
|
|
Aqui estão diagramas de trevos e figuras oito. Em cada caso, mostramos um nó e a sua imagem no espelho. Os dois trevos são diferentes: por muito que se torça e puxe um trevo, ele nunca se transformará na sua imagem no espelho. No entanto, as duas figuras oito são o mesmo nó, como podemos mostrar através dos movimentos seguintes:
Isto ilustra um ponto importante. Para mostrar que dois diagramas representam o mesmo nó, basta transformarmos um até conseguir mos formar o outro. Se (ao fim de algum tempo) não tivermos conseguido, podemos não ter sido suficientemente espertos ou os nós podem ser realmente diferentes. O que é difícil é mostrar que os nós são diferentes. Para isso precisamos da noção de invariante, que às vezes distinguirá um nó de outro, independentemente da forma em que são dados. Em 1984, foi descoberta toda uma série de invariantes novos. Para o trevo e a sua imagem no espelho, os invariantes são
Esta é uma maneira de saber que nenhuma forma de torcer e puxar vai transformar o toro na sua imagem no espelho. |
l2m2-2l2-l4
|
l-2m2-2l-2-l-4
|
Invariantes
A classificação de nós envolve dois aspectos:
O primeiro envolve geralmente a transformação de um diagrama de nó em outro. O segundo envolve a questão mais subtil de decidir quando é que uma tal transformação não é possível. Uma tal decisão envolve a noção de invariantes. Na nossa apresentação lidamos com quatro invariantes:
Também mencionamos brevemente os novos polinómios de nós que nos permitem distinguir facilmente entre o trifólio e a sua imagem no espelho. A vantagem dos quatro invariantes que tratamos em detalhe é que eles podem ser apresentados facilmente a este nível e sugerem muitos exercícios e exemplos detalhados que as pessoas podem tentar por si. O outro ponto frisado pela discussão dos invariantes é que não pretendemos ter um conjunto completo de invariantes, isto é, não temos um método de distinguir todos os nós possíveis. Uma abordagem completamente diferente dos invariantes é dada pelo método dos caminhos e lacetes. Mais uma vez, isto não dá um conjunto completo de invariantes. Portanto, muitos problemas permanecem na teoria, e isto também é um ponto que é facilmente transmitido. Queremos que o leitor veja que a Matemática é, e continua a ser, uma actividade aberta. Mais geralmente, os matemáticos não estão entre aqueles que esperam que apareça uma nova teoria que de algum modo responda a todas as perguntas, uma espécie de `método universal de resolução de problemas'. Esperamos encontrar novas maneiras de ver e resolver velhas questões e encontrar interligações belas e surpreendentes de padrões, estruturas e relações com as quais se maravilhar.
Algumas curiosidades Interessantes:
|
|
Número
mínimo de cruzamentos |
|||||||||||
|
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
7 |
8 |
9 |
10 |
11 |
12 |
13 |
|
Número
de “componentes” |
1 |
0 |
1 |
1 |
2 |
3 |
7 |
21 |
49 |
165 |
552 |
2176 |
9988 |
2 |
1 |
0 |
1 |
1 |
3 |
8 |
16 |
61 |
? |
? |
? |
? |
|
3 |
0 |
0 |
0 |
0 |
3 |
1 |
10 |
21 |
? |
? |
? |
? |
|
4 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
3 |
1 |
? |
? |
? |
? |
Para
a descoberta de algumas das relações dos Nós, Matemáticos famosos utilizaram as
“tranças”. Eis aqui alguns exemplos ilustrativos de “tranças”:
|
|
|
|
|
|||||
|
|
|
|
||||||
|
|
|
|
||||||
Os tradicionais “Nós de gravata” também se estudam em Matemática, porque na verdade são espécie Nós. Ficam aqui alguns exemplos de “Nós de Gravata”:
|
1. Situate the tie so that the end "A"
is longer than end "B" and cross "A" over "B". |
|
2. Bring "A" up through loop between
collar and tie; then back down. |
|
3. Pull "A" underneath "B"
and to the left, and back through the loop again. |
|
4. Bring "A" across the front from
left to right. |
|
5. Pull "A" up through the loop again. |
|
6. Bring "A" down through the knot in
front. |
|
7. Using both hands, tighten the knot and draw
up to collar. |
|
|
How
to tie a Half Windsor |
|
1. Situate the tie so that the end "A"
is longer than end "B" and cross "A" over "B". |
|
2. Bring "A" up around and behind
"B". |
|
3. Bring "A" up. |
|
4. Pull "A" up and through the loop. |
|
5. Bring "A" around front, over
"B" from left to right. |
|
6. Again, bring "A" up and through the
loop. |
|
7. Bring "A" down through the knot in
front. |
|
8. Using both hands, tighten the knot and draw
up to collar. |
How
to tie a Four-in-Hand |
|
1. Situate the tie so that the end "A"
is longer than end "B" and cross "A" over "B". |
|
2. Turn "A" back underneath
"B". |
|||||||||||||
|
3. Continue by bringing "A" back over
in front of "B" again. |
|
4. Pull "A" up and through the loop
around your neck. |
|||||||||||||
|
5. Hold the front of the knot loosely with your
index finger and bring "A" down through front loop. |
|
6. Remove finger and tighten knot snugly to
collar by holding "B" and sliding the knot. |
|||||||||||||
|
|
|||||||||||||||
|
|
|||||||||||||||
|
|
|||||||||||||||
|
|
|||||||||||||||
|
|
|
||||||||||||||
|
|
|||||||||||||||
|
|
|
||||||||||||||
|
|
|||||||||||||||
|
|
|||||||||||||||
|
|
|||||||||||||||
|
|
Durante o nosso pequeno estágio no IST aprendemos a distinguir Nós através de diferentes Polinómios. Fica aqui um exercício de distinção de Nós, utilizando o Polinómio de Jones.
[t]
[t] =
[t]= 1.
t-1[t] - t
[t] = (t1/2
- t-1/2)
[t].
t-1[t] - t
[t] = (t1/2 - t-1/2)
[t].
=
,
[t] = 1,
[t] = (t3/2
- t1/2)
[t] + t2.
[t]= -t4
+t3 + t.
t-1[t] - t
[t] = (t1/2
- t-1/2)
[t]
- t [t] + t-1
[t] = (t1/2
- t-1/2)
[t].
t [t] - t-1
[t] = (t-1/2
- t1/2)
[t].
[t] = - t-4
+ t-3 + t-1
|